Tomar posse das possibilidades exíguas no sentido mais concreto possível, apostando na inteligibilidade para alcançar as grandezas humanas. Fazê-lo de maneira convicta, num processo onde o resultado artístico se apropria das regras básicas para expressar uma identidade. O cinema de Budd Boetticher (1916-2001) se revela sublime em seu despojamento.
Neste texto, compartilho alguns pensamentos sobre a sua obra partindo de cinco longa-metragens: Seminole (1953), 7 Men From Now (1956), The Tall T (1957), Decision at Sundown (1957) e Ride Lonesome (1959).
“Os western de Budd Boetticher são melhores do que um sonho incrível porque nós os vivemos”.
(David Downey - Annotations on Film)
Entre 1944 e 1971, Boetticher dirigiu 47 filmes. Com o passar dos anos, obteve reconhecimento pela crítica como auteur a partir da série de ‘filmes B’ que dirigiu na segunda metade da década de 1950. Apelidada “Ranown”, ela é composta por cinco westerns - todos produzidos por Harry Joe Brown, roteirizados pela dupla Burt Kennedy e Charles Lang e estreladas por Randolph Scott e seu par de pale blue eyes.
O crítico inglês Robin Wood assim caracteriza o ciclo formado por The Tall T (1957), Decision at Sundown (1957), Buchanan Rides Alone (1958), Ride Lonesome (1959) e Comanche Station (1960):
“Os filmes utilizam os elementos de gênero mais tradicionais — o conflito herói/vilão, o tema da vingança, a gangue, os índios — nos quais Boetticher e Kennedy realizam variações sutis e idiossincráticas. O tom é sempre despretensioso, e o gênero é sempre respeitado: nunca sentimos uma tensão autoconsciente por "significância", ou qualquer sensação de que os artistas se sentem superiores à sua matéria-prima e estão empenhados em transcendê-la.”1
A filmografia de Boetticher, contudo, não contém apenas um gênero. E apesar de ter rodado filmes noir e séries para TV, os longas ambientados em touradas possivelmente seriam os seus projetos de cunho mais pessoal, remetendo ao passado como matador: o drama Bullfight and the Lady (1951; o primeiro onde assina como Budd Boetticher ao invés de seu nome de batismo, Oscar Boetticher Jr.) e o documentário produzido durante uma década, Arruza (1971), sobre o amigo toureiro Carlos Arruza. Ainda assim, os western abrigam em comum certos traços capazes de caracterizar o estilo e a visão deste diretor dotado da eficácia de um artesão e, ao mesmo tempo, consciente da liberdade proporcionada pelo método de produção mais concentrado, alheio às expectativas financeiras geradas por altos investimentos dos grandes estúdios.
Em comparação com nomes mais célebres e populares do gênero como John Ford, Anthony Mann e Howard Hawks, Boetticher seria, como o define o crítico francês Jacques Lourcelles,
“Um dos raros diretores americanos de sua geração a ignorar seus limites, a possuir mais ambição e orgulho do que escopo e meios.” 2
Seminole - EUA, 1953






Apesar da temática bélica, este longa da fase pré-Ranown é formatado de acordo com o regramento do western.
De cena em cena, Seminole demonstra ser aquilo que o major Degan (Richard Carlson) e o nativo americano Kajeck (Hugh O’Brian) renegam, que é o mesmo praticado espontaneamente pelo tenente Caldwell (Rock Hudson) e o chefe Osceola (Anthony Quinn) por um viés humanitário.
Ou seja, Seminole é um filme essencialmente político, no sentido de promover um movimento através do atrito entre contingências distintas, estabelecidas em relação umas às outras. Convicção é algo caro a Budd Boetticher e talvez por isso o seu modo de expressão tão funcional dê importância à palavras, fatos e elementos específicos.
A questão do orgulho difere os tipos de autoridade, mas os ímpetos não se limitam ao antagonismo entre militar e indígena. Para aqueles consumidos pelo senso de dever, convertendo-o em ódio (o major Degan e o nativo Kajeck), esta é uma questão de ambição, vingança e intransigência. Já o chefe Osceola e o tenente Caldwell valorizam a integridade ética e por ela chegam a ser insolentes e altivos perante os regulamentos. Em meio ao cenário bélico da Guerra Seminole (1835-1842) travada entre os Estados Unidos e o grupo de nativos da Flórida, esses dois personagens praticam uma estratégia política a favor da trégua.
Por consequência, o personagem de Rock Hudson seria o tenente ideal para o chefe nativo vivido por Quinn, mesmo a etnia colocando-os em lados opostos e obliterando o vínculo de outrora. Esse histórico fraterno, contudo, também os direciona a intuitos distintos: para o indígena há uma necessidade de esquecimento; para o soldado, trata-se um desejo de reparação.


Eis que a sugestão política de Seminole ganha potência, insistindo em maneiras de viabilizar não a utopia de uma súbita união entre os povos mas pelo menos um intervalo pacífico onde os componentes do tabuleiro de guerra tenham a liberdade de compreender exatamente o lado onde pertencem (ou melhor, àquilo que desejam pertencer).
A estima pela convicção dispensa apologias ideológicas porque se volta de maneira irrefutável à humanidade dos personagens, independente dos posicionamentos. Neste direcionamento, a materialidade de Boetticher revela sua sensibilidade. É possível aplicar aqui - tanto ao tenente Caldwell quanto ao chefe Osceola - aquilo que o crítico francês Sébastien Roulet ressalta sobre os protagonistas vividos por Randolph Scott em “O Homem Que Luta Só” e “Cavalgada Trágica”:
“Esta figura, que rompeu a distância entre aparência e signo, é o embrião da personagem revolucionária. Ela exprime, necessariamente, a ideologia que a veicula (o que não significa que ele a enuncia claramente: essa seria a tarefa do filme conscientemente revolucionário). E, como que por magia, escapa a toda classificação maniqueísta, por ressaltar apenas planos econômicos (a troca) e individuais (a vingança)”. 3
7 Men From Now (Sete Homens Sem Destino) - EUA, 1956

Primeira colaboração entre Boetticher e Randolph Scott, onde a contratação do diretor foi uma insistência do ator junto à produtora Batjac Productions, co-fundada por John Wayne.
Atravessando o árido Arizona, o ex-xerife Ben Stride (Scott) busca os sete responsáveis pela morte de sua esposa durante um assalto no condado. Seis duplas atravessam o seu caminho - dentre eles, um velho conhecido, o bandido Bill Masters (Lee Marvin).
O turning point da trama, descoberto através do personagem de Marvin, se baseia num movimento circular. Com atenção, é possível perceber como isto é antecipado por Budd Boetticher na própria estrutura de 7 Men From Now. A narrativa fílmica progride desde o início por um método de contiguidade, numa linha metonímica meticulosa e detalhista. Essa ressonância atribui um caráter poético à competência artesanal do diretor, caracterizada pela inteligibilidade precisa. 7 Men From Now se desenvolve na via entre o naturalismo e a abstração.
O ensaio do correspondente americano da Cahiers du Cinéma Bill Krohn a respeito da pintura do crítico e escritor Manny Farber dedicada a Budd Boetticher (“My Budd” (1978), tela integrante da coleção ‘Auteur series’), ressalta uma questão pictórica também aplicável às próprias construções visuais do diretor:
“É dentro desse complexo de associações que as idiossincrasias formais de My Budd podem ser lidas, como usar o espaço vazio no meio da imagem como um elemento composicional (‘Boetticher ... constrói em torno de dois terços passivos da tela’), como em um filme de Snow ou Duras, ou adotar a estratégia de Straub-Huillet de injetar elementos do mundo natural (as rochas, as tartarugas, a aranha) em uma tela que, de outra forma, sufocaria sua própria perfeição formal”.4
A história de 7 Men From Now determina um revezamento da obstinação entre lados opostos - ora, o dinheiro transportado pelo casal Greer é mero motif, as razões logo se tornam morais - e, por isso mesmo, a união é uma solução inviável. Apesar dos elementos duplos que constantemente cruzam o caminho do protagonista errante, o próprio deserto do Arizona irradia no destino dos personagens sob os aspectos da solidão, da morte e da separação.




Na simplicidade de sua aparência, Randolph Scott é, ele próprio, a inteligência de um equilíbrio plácido, a eficiência constante de uma autonomia que se recusa a abrir mão da integridade. É nos gestos e no rosto do ator que a natureza e o homem entram em uníssono por meio de uma primitividade translúcida, onde o espírito e as formas do mundo sensível parecem indissociáveis.
A tentativa do sujeito comum (Lee Marvin) de enfrentar tamanha grandeza é, ao mesmo tempo, encantadora e imatura na pequenez do seu narcisismo vulnerável.
The Tall T (O Resgate do Bandoleiro) - EUA, 1957

É perceptível em The Tall T um conflito entre a vastidão material do mundo primitivo e a noção utópica de quietude do cenário doméstico, onde a primeira sempre se impõe às promessas da segunda. A relação da câmera com as locações propõe uma articulação entre o campo da cena (a natureza como fragmento volúvel) e o enquadramento (molduras, escombros e sombras proporcionando a geometria dinâmica que dá um aspecto pictórico ao retângulo da imagem). Este exercício possibilita a discrição de uma autonomia dramatúrgica por parte de Boetticher perante os imperativos do gênero western; o saldo é o deserto como habitat natural, uma vez que os movimentos de chegada e partida são inevitavelmente contínuos.

Um outro tipo de instabilidade se prefigura diante de Randolph Scott, para quem Boetticher promove uma liturgia do ponto-de-vista por meio dos demais personagens. A comedida expressividade do rosto de Scott serve de receptáculo para as expectativas alheias, fazendo com que a sua figura vibre a partir das possibilidades projetadas, tornando-o numa presença (e, de todos os relevos, a perspectiva de auto-regeneração vislumbrada pelo “vilão” vivido por Richard Boone possibilita à narrativa estabelecer uma zona cinzenta entre os padrões do maniqueismo). O crítico francês André Bazin define com precisão a função do ator:
“Há, enfim, Randolph Scott, cujo rosto lembra irresistivelmente o de William Hart até na sublime inexpressividade dos olhos azuis. Não há nenhum jogo de fisionomia, nem sombra de pensamento ou sentimento, sem que tal impassibilidade, é óbvio, tenha algo a ver com a interioridade moderna de um Marlon Brando. Esse rosto não traduz nada, pois não há nada para ser traduzido. Todos os móveis da ação são definidos aqui pelos empregos e pelas circunstâncias.” 5
Talvez seja isso o condutor da precisão emocional contida nos relacionamentos que The Tall T tenta desenvolver a partir dos encontros com Scott, vínculos sempre limitados pela própria composição solitária do protagonista. O código de ética é de suma importância aos westerns de Boetticher, mas o zelo pela natureza individual do andarilho é o elemento mais caro ao cineasta. É para onde se volta, afinal, a unidade de sua construção. E, mesmo sendo uma mise-en-scéne funcional, despida das ambições simbólicas, ela alcança um valor transcendente na unidade promovida entre os eventos, os diálogos, a técnica e as atuações, algo que vai além dos quesitos plástico e/ou estético.
Independente dos comentários sobre a história e o discurso ideológico estadunidenses pertinentes à maioria dos western hollywoodianos, os filmes do ‘ciclo Ranown’ possibilitam experienciar o essencialismo de um modo de vida composto por exigências básicas, expectativas despretensiosas e expressão individualista. Tal estoicismo, contudo, não se direciona à uma afasia existencial e sim a um profundo conhecimento da própria identidade.
Decision at Sundown (Entardecer Sangrento) - EUA, 1957
Ao mesmo tempo que tudo soa tão neutro em Decision at Sundown - os códigos, os cenários, as identidades, a urgência - cada elemento expressa uma função específica na encenação homogênea de Boetticher. Essa predisposição material também se aplica às convenções do western, favorecendo sutis variações aos moldes maniqueistas do gênero. Neste, como nos demais títulos da série Ranown, tais modificações são operadas de forma sintética, até mesmo com certa elegância.
O aparente estoicismo de Bart Allison (Randolph Scott) oculta um heroísmo de natureza romântica, desde o início espelhado em Ruby (Valerie French), a única capaz de desafiar as normas por amor. Basta a presença de um deles para perturbar o funcionamento padrão do vilarejo de Sundown conforme manipulado por Tate (John Carroll). Vingança e sacrifício (ou a dor pela perda e a iminência da mesma) andam em paralelo, compensando-se à distância até o confronto anti-climático.


O suposto individualismo se torna a força motriz para a tomada de consciência e a consequente insurgência social da comunidade, sendo este o verdadeiro espetáculo em Decision at Sundown. O modo de produção é modesto mas os efeitos são universais como uma fábula moral. O estilo objetivo e a postura material de Boetticher geraram comparações com a escrita de Ernest Hemingway. A isto, o professor estaudinense Jim Kitses contesta:
“A evocação perene de Hemingway faz pouco para iluminar a obra de Boetticher; se devemos procurar paralelos literários, Chaucer parece mais apropriado. Acima de tudo, os filmes de Boetticher são comédias, obras profundamente irônicas, mas comédias mesmo assim. Em contraste com o mundo trágico de Anthony Mann, os pequenos filmes de Boetticher são reflexões agridoces sobre a condição humana. Dentro dessa perspectiva, Chaplin e Lubitsch parecem tão relevantes quanto Ford e Hawks para uma compreensão de Boetticher”.6

Ride Lonesome (O Homem Que Luta Só) - EUA, 1959

Comparando os western de Boetticher com os de Anthony Mann e John Ford, o curador estadunidense Dave Kerr ressalta:
“O Oeste dos filmes de John Ford é uma abstração social; nos grandes faroestes de Anthony Mann, é uma abstração psicológica. Mas para Boetticher, a paisagem do faroeste é abstrata e concreta, uma arena para ação filosófica estilizada e um lugar de presença física urgente — um ambiente altamente texturizado e tátil que deve ser atendido com a máxima sensibilidade e inteligência para dominar seus perigos”.7
Penúltimo título do ciclo Ranown, Ride Lonesome é um filme marcado pela consonância do homem com os elementos naturais, desde o seminal movimento de câmera que vai dos céus ao encontro do personagem de Randolph Scott atravessando um desfiladeiro (sua figura camuflada dentre as rochas do deserto), até o último plano, pautado pelo direcionamento inverso (o protagonista diante da “árvore do enforcamento” incendiada, observando a fumaça negra emergir prolongadamente).
Trata-se de uma relação complexa perante a vastidão do deserto, dotada de algumas características: a primitividade é um instinto compartilhado com o meio (quem não entra em cena armado, o faz já morto); a circunstância inóspita induz à união temporária; e a errância é paliativo para algum desafio - seja a resposta ao lar destruído (o intuito vingativo de Scott e o desejo de mudança da personagem vivida por Karen Steele), o sonho de uma tranquilidade doméstica inalcançável (o plano de anistia de Pernell Roberts e James Coburn), ou a vigília pela redenção milagrosa (James Best e sua espera por Lee Van Cleef).

Ride Lonesome detém um dos mais belos desertos já fotografados por Hollywood. Chega a impressionar a capacidade do Cinemascope de abrigar a interação física entre os atores e os elementos da locação em campos abertos sem, no entanto, descaracterizar as diferenças da magnitude ancestral e da efemeridade individual. O estabelecimento desses traços primordiais, por sua vez, aproxima os personagens em sua condição humana, permitindo aos papeis sociais (e da intriga) adquirir fluidez. Apesar de uma certa convicção moral regular sobre as escolhas, provocando causa-e-efeito, é possível perceber uma permutação de traços dentre o grupo unido pelo acaso, caracterizando-no de maneira sensível. Por outro lado, a poeira da areia, os grandes rochedos, o breu noturno, as dunas e as ruínas da civilização atribuem uma ênfase material às ações, dando uma sensação urgente aos confrontos internos e externos.
Todo o funcionamento dessa engrenagem vigorosa é, no fundo, o resultado de uma operação bem simples. Boetticher não satura o Cinemascope mas o utiliza para alcançar maior economia, investindo em posicionamentos definidos e movimentos concisos, trazendo a narrativa para primeiro plano. Todo o resto é uma consequência natural e essa espontaneidade gera um valor incomensurável em seus efeitos finais, dando-lhes a grandeza espiritual da exumação.

Como em outros western do Ranown, em Ride Lonesome os sentimentos necessitam ser verbalizados (vide a ironia memorável no diálogo entre Roberts e Coburn); contudo, isto não é sinal de fraqueza do roteiro. Tal exposição se dá porque os personagens de Boetticher possuem, sobretudo, uma essência instintiva e são determinados por um desígnio particular. Em meio à trajetória, os sentimentos se manifestam de forma abrupta e num intervalo efêmero. Aqueles que não os expressam de imediato, mesmo indiretamente, não conseguem fazê-lo depois.
Procurando por entrevistas de Boetticher, encontrei esta declamação do Soneto nº 29 de William Shakespeare. É uma justa definição dos solitários e circunspectos andarilhos interpretados por Randolph Scott:
“De mal com os humanos e a Fortuna,
choro sozinho o meu banido estado.
Meu vão clamor o céu surdo importuna
e olhando para mim maldigo o fado.
A querer ser mais rico em esperança,
como outros em amigos e talento,
invejando arte de um, doutro a pujança,
do que mais gosto menos me contento.
Se assim medito e quase me abomino,
penso feliz em ti e meus pesares
(qual cotovia em voo matutino
deixando a terra) então cantam nos ares.
Tão rico me é teu doce amor lembrado,
que nem com reis trocava o meu estado”.
(tradução de Vasco Graça Moura8)
WOOD, Robin. “Budd Boetticher”, em Cinema: A Critical Dictionary - Volume One, ed. Richard Roud (The Viking Press, 1980), pp. 133-135.
LOURCELLES, Jacques. “Chute d’un caid (La)”, em Dictionnaire du Cinéma (Robert Laffond, 1992), pp. 285-286.
ROULET, Sébastien. “Fora-da-lei": O Homem Que Luta Só e Cavalgada Trágica”, em Cahiers du Cinéma nº 211 (abril de 1969), pp. 57-58. Traduzido por Bruno Andrade.
KROHN, Bill. “My budd by Manny Farber”, em Ride Lonesome, ed. Charles Tatum Jr. (Yellow Now, 1988).
BAZIN, André. “Um western exemplar: Sete homens sem destino”, em O Que é o Cinema? (Cosac Naify, 2014), pp. 257-262.
KITSES, Jim. “Budd Boetticher: Rules of the Game”, em Horizon’s West (BFI, 2004), pp. 173-200.
KERR, Dave. “Budd Boetticher”, em Movies that mattered (The University of Chicago Press, 2017), pp. 18-21.
SHAKESPEARE, William. Sonetoº 29, em Os Sonetos Completos (Landmark, 2005). Tradução de Vasco Graça Moura.